*Me aproprio do título do filme para começar.
Cronicamente inviável. É assim que vejo a avenida por onde transito. Faltam alguns minutos para a uma da tarde. Um sol tímido incomoda esta passageira que atravessa, sentada à janela do ônibus, a avenida mais paulistana: Avenida Paulista. Humor péssimo (raridade, mas nunca impossibilidade, rotineira).
Sinal fechado e filas de carros parados, o ônibus parado. Na ilha (aquela parte da avenida que separa as duas pistas), um homem de cabelos brancos cospe em direção a um dos carros. Grita e segue caminhando com raiva explícita nos gestos que faz com os braços. Não há ninguém ao seu lado. Todos os carros estão parados aguardando o sinal verde. Não houve nem um movimento que pudesse ter agredido o "cidadão"/pedestre. eu estava ali... olhar fixo no movimento (no não movimento) da rua. O asfalto imóvel!
Verde: finalmente o sinal está aberto para motoristas estressados (ou não) seguirem seu percurso. Eu ainda vejo o homem se debatendo e xingando à revelia! O coletivo em que estou sentada à janela ultrapassa o carro do cidadão que foi xingado e teve uma cusparada em sua direção. Na direção do veículo vejo um homem negro, despreocupado com a lentidão.
(Vontade de vomitar.)
Delicadezas Crônicas
Onde as belezas cronicamente publicáveis estão
quinta-feira, 9 de novembro de 2017
terça-feira, 22 de agosto de 2017
300 dias com ele
Não sei se vou dar conta de contar como tenho vivido. Não sou boa nas contas! Faz de conta que "era uma vez" é o início ideal para este conto de fadas que agora eu conto!
Porque, afinal de contas, o que conta mesmo é o que a gente não conta pra ninguém!
Ah! Desculpe o tom confessional desse texto! Eu deveria estar escrevendo para os leitores, mas como falar dele (que é você)? Usaria o discurso indireto não livre, porque me sinto "presa" a você - sujeito do conto - e trairia a gramática atrevida que vem atrapalhar minha vida!
Exposto o leitmotiv dessa prosa, passo ao motivo do dia: ele. Se você, leitor, não conhece ainda o argumento desse emaranhado de nós, eu explico: há um pouco mais de 300 dias, ele acenou pra mim; era apenas uma forma de reconhecimento, talvez um gesto de aprovação para a minha súbita atenção. Era um dia (era noite já) importante: minha primeira passagem pelo bar depois dos temporais; despretensiosamente trocamos olhares, abraços, palavras (não necessariamente nesta ordem). Depois contamos histórias, literalmente. E vieram as cachaças no mesmo copo; o contato com tato, o corpo.
Quando nossas almas se tocaram, já era tarde! Aí nos tocamos: somos.
Sabe?, eu gosto de falar (escrever) desse nosso começo porque parece mesmo fábula, filme romântico com final feliz! E gosto também porque no início foi o verbo, o livro, uma novela de sucesso!
Nesses 300 dias, ele dividiu minhas horas: agora meu relógio marca apenas minutos... meus verbos conjugados em outros tempos: ele - primeira pessoa, única conjugação, sempre verbo, sempre presente - minha entrelinha fina de inspiração.
Porque, afinal de contas, o que conta mesmo é o que a gente não conta pra ninguém!
Ah! Desculpe o tom confessional desse texto! Eu deveria estar escrevendo para os leitores, mas como falar dele (que é você)? Usaria o discurso indireto não livre, porque me sinto "presa" a você - sujeito do conto - e trairia a gramática atrevida que vem atrapalhar minha vida!
Exposto o leitmotiv dessa prosa, passo ao motivo do dia: ele. Se você, leitor, não conhece ainda o argumento desse emaranhado de nós, eu explico: há um pouco mais de 300 dias, ele acenou pra mim; era apenas uma forma de reconhecimento, talvez um gesto de aprovação para a minha súbita atenção. Era um dia (era noite já) importante: minha primeira passagem pelo bar depois dos temporais; despretensiosamente trocamos olhares, abraços, palavras (não necessariamente nesta ordem). Depois contamos histórias, literalmente. E vieram as cachaças no mesmo copo; o contato com tato, o corpo.
Quando nossas almas se tocaram, já era tarde! Aí nos tocamos: somos.
Sabe?, eu gosto de falar (escrever) desse nosso começo porque parece mesmo fábula, filme romântico com final feliz! E gosto também porque no início foi o verbo, o livro, uma novela de sucesso!
Nesses 300 dias, ele dividiu minhas horas: agora meu relógio marca apenas minutos... meus verbos conjugados em outros tempos: ele - primeira pessoa, única conjugação, sempre verbo, sempre presente - minha entrelinha fina de inspiração.
quinta-feira, 23 de março de 2017
sobre ir pra cama com você ou deitar sobre você
Ir pra cama com você, desde a primeira vez, nunca foi uma expressão vulgar. Nosso íntimo lugar comum desfez todos os clichês românticos e previsíveis. Você nunca foi o sedutor dado a canalhices banais. Nunca. Você não me diz palavra chula qualquer. Sua delicadeza tão inusitada toca minha pele detonando sensações-erupções-emoções desconhecidas e desesperadas. E desesperadamente eu desejo seu toque: o tato intacto em minhas profundidades obscuras.
Ir pra cama com você sempre foi doce e terno... circunstancialmente, você me abraça e acolhe meu despreparo emocional... Ir pra cama com você nunca está condicionado a ímpetos efêmeros de desejo. Ir pra cama com você nunca é como se eu fosse um fetiche, uma prenda... Você me enaltece, me enternece.
Ir pra cama com você não cabe em uma prosa de fim de noite, porque é narrativa de madrugada adentro. É uma sintaxe avessa a regras, mas que não comete erros grosseiros de conjugação. Ir pra cama com você é ter sempre reticências entre o delírio e o orgasmo iminente. É saciedade sem ponto final.
Ir pra cama com você dispensa trivialidades rotineiras, pois requer um roteiro menos usual criando cada cena com o ineditismo das horas. Ir pra cama com você atravessa a cronologia razoável dos calendários e relógios dispersos ao longo da história. Ir pra cama com você é suavidade, entrega, sublimação. Ir pra cama com você nunca vai ser protocolo.
E a cada noite, desde a primeira noite, ir pra cama com você é um acontecimento. Porque ir pra cama com você é tudo o que de mais singelo eu desejo (quando sobre você me deito).
Ir pra cama com você sempre foi doce e terno... circunstancialmente, você me abraça e acolhe meu despreparo emocional... Ir pra cama com você nunca está condicionado a ímpetos efêmeros de desejo. Ir pra cama com você nunca é como se eu fosse um fetiche, uma prenda... Você me enaltece, me enternece.
Ir pra cama com você não cabe em uma prosa de fim de noite, porque é narrativa de madrugada adentro. É uma sintaxe avessa a regras, mas que não comete erros grosseiros de conjugação. Ir pra cama com você é ter sempre reticências entre o delírio e o orgasmo iminente. É saciedade sem ponto final.
Ir pra cama com você dispensa trivialidades rotineiras, pois requer um roteiro menos usual criando cada cena com o ineditismo das horas. Ir pra cama com você atravessa a cronologia razoável dos calendários e relógios dispersos ao longo da história. Ir pra cama com você é suavidade, entrega, sublimação. Ir pra cama com você nunca vai ser protocolo.
E a cada noite, desde a primeira noite, ir pra cama com você é um acontecimento. Porque ir pra cama com você é tudo o que de mais singelo eu desejo (quando sobre você me deito).
quinta-feira, 11 de agosto de 2016
Playlist (ou musicalmente crônica)
Pensando nas supostas incoerências que cometo no dia a dia, ou falando dos TOCs que me acometem, resolvi me expor mais uma vez.
Relato agora como foi voltar para minha casa hoje. Começo explicando minha preferência por usar o ônibus em vez de metrô. Sim, eu prefiro usar os ônibus urbanos, mesmo estando num terminal que agrega uma estação de metrô.
[Primeiros parênteses ou primeira revelação de um suposto TOC: Eu não gosto da Linha Amarela do metrô. Tenho vertigem ao andar por todas aquelas escadas no meio de uma constante multidão. Não gosto (e ponto). Sensação de estar andando demais sempre me cansa!]
Pois então, já que para ir ao trabalho e voltar de lá eu preciso obrigatoriamente usar ônibus e metrô, abro mão da "rapidez" do trem e opto pelo tráfego caótico das ruas dessa cidade...
Mas não se trata de uma simples escolha pelo caos, veja bem, há que se considerar que a vista é mais aprazível, é mais confortável [SIM, eu escrevi CONFORTÁVEL, entrando no ônibus no ponto inicial/final, como é o caso, venho sentadinha, tranquila] e ainda consigo pensar, sonhar, "viajar na maionese", enfim...
[Segundos parênteses: já "viajei" tanto que passei do ponto mais de uma vez! E não pense que fiquei estressada por isso.. dei muita risada.. e aí sim as pessoas me olhavam com aquele olhar crítico me julgando maluca...rsrs]
Hoje, não foi muito diferente a viagem, exceto por eu ter escolhido uma banda para ouvir durante o percurso. Skank. [SIM, eu ouço SKANK, e gosto e quase canto junto por considerar as letras muito fofas...rs...]
Então foi assim: peguei abri a lista das músicas no celular e segui a ordem alfabética.
ACIMA DO SOL
"Assim ela já vai
Achar um cara que lhe queira
Como você não quis fazer
...
Tão fácil perceber
Que a sorte escolheu você
E você cego nem nota"
Eu cantava mentalmente controlando os lábios para não pronunciar nenhum verso da canção... mas por dentro ela reverberava.. em alto e bom som!!
A faixa seguinte:
AMORES IMPERFEITOS
"Sinto muito se não fui seu mais raro amor
E quando o dia terminar
E quando o sol se inclinar
Eu posso pôr uma toalha
E te servir o jantar
...
Mentira se eu disser
Que não penso mais em você
E quantas páginas o amor já mereceu
Os filósofos não dizem nada
Que eu não possa dizer
Quantos versos sobre nós eu já guardei
Deixa a luz daquela sala acesa
E me peça pra voltar
...
Sei que amores imperfeitos
São as flores da estação"
Nessa eu quase fui pega dançando... a letra traz versos tristes, mas o ritmo.. ah! o ritmo é perfeito (acho que é proposital, para contradizer o título...rs)
E veio a terceira:
BALADA DO AMOR INABALÁVEL
"Leva essa canção
De amor dançante
Pra você lembrar de mim
Seu coração lembrar de mim
Na confusão do dia a dia
No sufoco de uma dúvida
Na dor de qualquer coisa
É só tocar essa balada
De swing inabalável
Que é oásis pro amor
Eu vou dizendo
Na sequência bem clichê
Eu preciso de você"
Que eu sempre gosto de ouvir só porque tem a palavra "clichê' na letra e eu adoro esta palavra!!
E o coração quase parou de bater com
DOIS RIOS
"Que os braços sentem
E os olhos veem
Que os lábios sejam
Dois rios inteiros
Sem direção"
E eis que chega a música que adotei como alarme para o despertador
ESQUECIMENTO
"Enquanto você para e espera
Eu ando, invado
Eu abro a porta e entro
Enquanto você cala quieta
Eu brigo, eu falo
Eu berro, eu enfrento
No canto dessa sala emperra
Eu ligo, acerto, eu erro
E eu tento
Enquanto você fala espera
Aflito eu fico e digo
Eu não entendo
Não sei por que você
Insiste em demorar
Eu quero que você
Diga já
Que seja no Japão
Jamaica ou Jalapão
No Jaraguá ou na Guiné
De charrete ou caminhão
De carro ou caminhando a pé
Eu vou
No banco sem guitarra elétrica
Com violão escrevo esse lamento
Pois como molha a água a pedra
Meu canto encerra o seu esquecimento"
E eu estava tão feliz com a sequência das músicas, que nem percebi que chegara ao ponto onde devia descer.
Relato agora como foi voltar para minha casa hoje. Começo explicando minha preferência por usar o ônibus em vez de metrô. Sim, eu prefiro usar os ônibus urbanos, mesmo estando num terminal que agrega uma estação de metrô.
[Primeiros parênteses ou primeira revelação de um suposto TOC: Eu não gosto da Linha Amarela do metrô. Tenho vertigem ao andar por todas aquelas escadas no meio de uma constante multidão. Não gosto (e ponto). Sensação de estar andando demais sempre me cansa!]
Pois então, já que para ir ao trabalho e voltar de lá eu preciso obrigatoriamente usar ônibus e metrô, abro mão da "rapidez" do trem e opto pelo tráfego caótico das ruas dessa cidade...
Mas não se trata de uma simples escolha pelo caos, veja bem, há que se considerar que a vista é mais aprazível, é mais confortável [SIM, eu escrevi CONFORTÁVEL, entrando no ônibus no ponto inicial/final, como é o caso, venho sentadinha, tranquila] e ainda consigo pensar, sonhar, "viajar na maionese", enfim...
[Segundos parênteses: já "viajei" tanto que passei do ponto mais de uma vez! E não pense que fiquei estressada por isso.. dei muita risada.. e aí sim as pessoas me olhavam com aquele olhar crítico me julgando maluca...rsrs]
Hoje, não foi muito diferente a viagem, exceto por eu ter escolhido uma banda para ouvir durante o percurso. Skank. [SIM, eu ouço SKANK, e gosto e quase canto junto por considerar as letras muito fofas...rs...]
Então foi assim: peguei abri a lista das músicas no celular e segui a ordem alfabética.
ACIMA DO SOL
"Assim ela já vai
Achar um cara que lhe queira
Como você não quis fazer
...
Tão fácil perceber
Que a sorte escolheu você
E você cego nem nota"
Eu cantava mentalmente controlando os lábios para não pronunciar nenhum verso da canção... mas por dentro ela reverberava.. em alto e bom som!!
A faixa seguinte:
AMORES IMPERFEITOS
"Sinto muito se não fui seu mais raro amor
E quando o dia terminar
E quando o sol se inclinar
Eu posso pôr uma toalha
E te servir o jantar
...
Mentira se eu disser
Que não penso mais em você
E quantas páginas o amor já mereceu
Os filósofos não dizem nada
Que eu não possa dizer
Quantos versos sobre nós eu já guardei
Deixa a luz daquela sala acesa
E me peça pra voltar
...
Sei que amores imperfeitos
São as flores da estação"
Nessa eu quase fui pega dançando... a letra traz versos tristes, mas o ritmo.. ah! o ritmo é perfeito (acho que é proposital, para contradizer o título...rs)
E veio a terceira:
BALADA DO AMOR INABALÁVEL
"Leva essa canção
De amor dançante
Pra você lembrar de mim
Seu coração lembrar de mim
Na confusão do dia a dia
No sufoco de uma dúvida
Na dor de qualquer coisa
É só tocar essa balada
De swing inabalável
Que é oásis pro amor
Eu vou dizendo
Na sequência bem clichê
Eu preciso de você"
Que eu sempre gosto de ouvir só porque tem a palavra "clichê' na letra e eu adoro esta palavra!!
E o coração quase parou de bater com
DOIS RIOS
"Que os braços sentem
E os olhos veem
Que os lábios sejam
Dois rios inteiros
Sem direção"
E eis que chega a música que adotei como alarme para o despertador
ESQUECIMENTO
"Enquanto você para e espera
Eu ando, invado
Eu abro a porta e entro
Enquanto você cala quieta
Eu brigo, eu falo
Eu berro, eu enfrento
No canto dessa sala emperra
Eu ligo, acerto, eu erro
E eu tento
Enquanto você fala espera
Aflito eu fico e digo
Eu não entendo
Não sei por que você
Insiste em demorar
Eu quero que você
Diga já
Que seja no Japão
Jamaica ou Jalapão
No Jaraguá ou na Guiné
De charrete ou caminhão
De carro ou caminhando a pé
Eu vou
No banco sem guitarra elétrica
Com violão escrevo esse lamento
Pois como molha a água a pedra
Meu canto encerra o seu esquecimento"
E eu estava tão feliz com a sequência das músicas, que nem percebi que chegara ao ponto onde devia descer.
domingo, 7 de fevereiro de 2016
desmontando preconceitos
Um feriado no meio da semana serve para pôr a casa em ordem. Chamei um conhecido (digamos aquele profissional entre o marido de aluguel e o zelador faz-tudo) para me auxilar num trabalhinho complicado: montar uma estante que comprara pela internet.
Ele chegou à minha casa antes das 8 horas. Até aí, tudo bem, né? Ele previa que ia trabalhar muito pra ganhar um troco inversamente proporcional! Ficou toda a manhã tentando desvendar de que lado ia um e outro parafuso. Foi empenhado nas tentativas várias. Ao meio-dia me sugeriu que fôssemos almoçar e prometeu retomar a labuta no fim da tarde (porque havia outro "cliente" à sua espera). Não me opus.
Ele chegou à minha casa antes das 8 horas. Até aí, tudo bem, né? Ele previa que ia trabalhar muito pra ganhar um troco inversamente proporcional! Ficou toda a manhã tentando desvendar de que lado ia um e outro parafuso. Foi empenhado nas tentativas várias. Ao meio-dia me sugeriu que fôssemos almoçar e prometeu retomar a labuta no fim da tarde (porque havia outro "cliente" à sua espera). Não me opus.
Quando eram 4 da tarde, ele interfonou anunciando que já estava pronto para encarar o segundo tempo daquela batalha que travava contra os pedaços inflexíveis de madeira. Abro a porta e dou de cara com os dois. Ele trouxe reforço! Tive a impressão de que era um presente logo de cara! O cara alto, forte, boa pinta entrou sem cerimônia e foi logo dizendo que entendia do riscado. Contive o riso (misto de demonstração de aprovação e bandeira explícita de satisfação com aquela presença suntuosa dentro de casa). Deixei-os trabalhando na sala e me mantive reclusa na lida doméstica (também não queria desperdiçar o momento; eu passava uma pilha de roupas).
O clima pedia um contato mais descontraído... atravessei a sala e fui pôr um café pra coar na cafeteria elétrica da cozinha. Depois de pronto, ofereci a bebida aos dois como quem pede a aprovação de alguém por uma grande obra executada. Sentei na sala para tomar uma xícara e mantive o quanto pude aquele ar espontânea e deliberadamente desinteressado.
Não sei se "ele" (o ajudante) percebeu meu olhar sobre seus gestos ou se estava mesmo absorto e aparentemente mergulhado nos meus livros. Quando dei por mim, estava ele, estava eu, os dois perdidos entre os títulos que habitam os espaços encolhidos entre um romance e outro. Ele se virou, de repente, "não mais que de repente" e desabafou: "É difícil essa coisa de Literatura, né?". Não sei se ele percebeu a minha expressão diante daquela frase-constatação tão coerente! Só balancei cabeça em concordância. e ele prosseguindo: "Porque esses dias eu li o Dom Casmurro, todo mundo um dia tem que ler, então eu li. Mas não gostei. Acho que ele usa umas palavras muito difíceis. A gente tem que ir e voltar pra entender. Aí perde o interesse pela leitura, porque a gente não se prende na história." Concordei com todas os seus argumentos. Estava deslumbrada. E ele a completar sua explicação "li até o fim, mas não gostei." Eu tive de dar sequência àqueles pensamentos tão sensatos "eu também, na adolescência, tentei ler Macunaíma e detestei. Fiquei com nota vermelha e só fui mudar de ideia na faculdade..." fui dando toda a ficha sem me mostrar orgulhosa por ter estudado na USP, por estar me descobrindo "escritora" e ele, tão delicadamente me interrompeu para confirmar meu grande feito: Nossa! Você estudou na USP?! Parabéns!" Fiquei toda sem rumo, desconcertada. Achei melhor voltar à roupa por passar que me aguardava no outro cômodo. E antes de deixá-los na sala, eu sugeri a ele que tentasse ler poemas, que em geral são mais curtos e ri meio debochada e sarcástica. Apontei-lhe na outra estante os livros de poesia, segurei o meu e mostrei-lhe a capa brincando "pelo menos a capa deste é bacana". Ele riu. Eu saí dali, finalmente.Eles só me chamaram no fim do trabalho.
Ao saírem, ele me pediu um exemplar de "O texto sentido". Entrou no elevador com o livro aberto, dizendo "Nossa! Como você escreve bem! Seus poemas são lindos! Só paro de ler quando chegar ao fim! Parabéns!
Ao saírem, ele me pediu um exemplar de "O texto sentido". Entrou no elevador com o livro aberto, dizendo "Nossa! Como você escreve bem! Seus poemas são lindos! Só paro de ler quando chegar ao fim! Parabéns!
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